A nossa música, o mais recente filme do realizador Jean-Luc Godard, estreado no passado mês de Fevereiro em Portugal, esteve em exibição no Teatro do Campo Alegre (Porto) entre os dias 5 e 11 do mês corrente. O último filme de Jean-Luc Godard, recentemente em exibição no Teatro do Campo Alegre (Porto), mas estreado em Portugal já em Fevereiro, é uma história que todos nós, de certa forma, conhecemos: dividida em três partes, é sobre o passado, o presente e o futuro da humanidade: ou como Godard lhes chama: o inferno, o purgatório e o paraíso.
A primeira parte do filme, que dura cerca de 10 minutos, é uma montagem de imagens de guerra documentais com imagens provenientes do cinema clássico. Trata-se de uma mistura de armas, explosões, cadáveres e feridos num tom de cor sempre avermelhado, acompanhado por uma voz off que se pergunta, envolvida na música, como é possível haver ainda sobreviventes. Isto é o Inferno - e o Inferno é a guerra.
Seguidamente, vem o presente: o Purgatório. Filmada em Sarajevo, cidade em ruínas e assolada pela guerra da Bósnia, é a parte mais longa e complexa do filme. Misturando factos reais com ficção, e pondo em plano central uma jornalista judia, Godard lança para a tela do cinema questões como o conflito israelo-palestiniano, a hegemonia norte-americana, o massacre dos índios da América e todos os conflitos bélicos em geral. Por fim, questiona ainda a missão da poesia e da arte no destino de um povo. Será de lembrar, por exemplo, a frase de Mahmoud Darwish: "Um povo sem poesia é um povo vencido", ou a associação entre os dicotomias cinematográficas (campo-contracampo/ficção-documentário) e a dicotomia Israel-Palestina. No purgatório, no presente, resta o sentimento de culpa e a luta pela paz, mas uma luta que acaba melancólica e ironicamente... O "presente" termina com o suícidio da jornalista e a recusa da "Humanidade" em morrer pela paz (pela guerra, já haverá muitos dispostos à morte, como Godard nos faz entender).
Por fim, o Paraíso é um espaço verde com risos e vozes de jovens, um espaço alegre e descontraído mas não tão longínquo ou impossível como se poderia pensar, um espaço que facilmente se encontraria em qualquer canto: o problema e a nova ironia é que o espaço está guardado por soldados da marinha americanos... E aqui de novo fica patente um aviso à comunidade europeia, uma chamada de atenção ao crescente poderio norte-americano e um convite aberto à acção política.
Trata-se assim de um filme que, por um lado, mostra o Godard inquieto de sempre (o Godard político, o Godard que acha que ainda é cedo para encontrar a tranquilidade) e que, por outro, mostra um Godard cada vez mais assombrado com o trajecto da História da Humanidade, cada vez mais apreensivo e melancólico perante uma guerra de povos que não acaba nunca.
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