sexta-feira, dezembro 10

(Est)Ética Terrorista no Teatro da Garagem

Com vontade de "lançar bombas" e de "não ficar quedo no seu lugar, contente com a sua vida" - é como sai qualquer espectador da peça "Os Justos", obra de Albert Camus, adapatada e encenada pelo grupo de Teatro Mala Voadora, com direcção artística de Jorge Andrade e José Capela. Esta peça de teatro, estreada no passado dia 3 no Teatro da Garagem (Lisboa), faz-nos reflectir de forma inédita acerca do terrorismo, transportando-nos da Rússia czarista de 1906 até aos dias de hoje.
Em cena até ao dia 15, esta obra conta-nos a história de um grupo socialista revolucionário que prepara e executa um atentado mortal ao Grão Duque. A partir deste acontecimento, desenrola-se um novelo interminável de questões que põem em causa o valor ético e os motivos de um acto terrorista que pressupõe o sacríficio de vidas. As contradições e complexidades são constantes num diálogo onde se tentam resolver questões da existência humana que perduram até hoje. A promessa de felicidade por parte de um grupo poderá adequar-se a todas as pessoas? Ódio contra ódio será a solução? Poder-se-á lidar com um poder autoritário e violento de braços cruzados? Haverá formas pacíficas de resolver o absolutismo? Estas são as perguntas que constituem o novelo de "Os Justos".
E quem desfia este novelo? Dum lado temos: Boria, o líder dos terroristas, Yanek, o autor do lançamento da primeira bomba, Alexis, que terá de lançar a segunda bomba, Dora, que é a única mulher do grupo e é responsável pela preparação das bombas, e por fim Stepan. Do outro lado, temos Skoutarov e a Grã-Duquesa que constituem a autoridade czarista e que defendem o poder absoluto e autocrático, punindo todos os que atentam sobre ele.
Em resumo, comunhão ideológica, poder, crime e ética terrorista - estes conceitos poderiam traduzir o que está no palco quando vemos "Os Justos".
Esta peça, que surgiu como ideia após os atentados de 11 de Setembro, estabelece, segundo Jorge Andrade, a ponte entre um início do século XX, onde as revoluções bolcheviques relativizaram a importância do crime face a situações ditatoriais e totalitárias, e um início do século XXI onde os actos terroristas sucedem por parte dos povos mais desprotegidos (Palestina, Iraque) sujeitos a países de grande poderio económico e militar (Israel, EUA), vitimando, porém, inocentes.

Fontes: